Por Júlia Martins
Lourenço Mutarelli é meu
escritor brasileiro contemporâneo favorito. Já havia lido todos os seus livros já
publicados, com exceção de Jesus Kid.
Então ele lançou O Grifo de Abdera,
no ano passado, e eu fiquei doida para ler, afinal foi um hiato proposital de
quase cinco anos, desde a publicação de Nada
me faltará. Acabei de concretizar essa vontade e vou compartilhar minha
experiência aqui com vocês.
Esse romance é, na minha opinião, a obra mais elaborada
dele e vou explicar porquê. O autor, definitivamente, não teve medo de brincar
com sua própria história artística ao elaborar essa trama. Ele conta a história
dos autores que estão por trás da alcunha Lourenço Mutarelli, que são, na
verdade, o escritor Mauro e o ilustrador Paulo, responsáveis por quadrinhos
como Diomedes e Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente. Além
deles, o rostinho bonito que ilustra as orelhas dos livros de Mutarelli é ainda
um terceiro personagem, Raimundo ou Mundinho, que leva os louros da obra. Após
a morte de Paulo, Mauro começa a escrever romances, o que condiz com publicação
do escritor na vida real. Citações da obra de Mutarelli estão por todo o livro
e, por isso, algumas brincadeiras propositais dentro de sua obra (como o que
existe realmente e o que é invenção) só serão percebidas por fãs do autor, ou
alguém disposto a pesquisar todas as referências.
A história tem início quando
Mauro recebe uma moeda de um estranho, o grifo de Abdera, e a partir desse
momento começa a se conectar com um sujeito desconhecido, Oliver Mulato, para
complicar ainda mais a trama. Mauro passa a conhecer tudo da vida de Oliver,
saber o que se passa em seu dia a dia, seus sentimentos e percepções do que
ocorre a sua volta. O mesmo não acontece com Oliver, já que ele passa a sofrer
de uma doença que se manifesta na forma de frases aleatórias em espanhol,
pronunciadas contra a sua vontade. O curioso é que essas frases são escritas por
Mauro no Google Tradutor para ver
como soam em espanhol. Portanto, de uma forma ou de outra, esses personagens
estão intimamente ligados.
A partir disso, passamos a
conhecer a vida de Oliver, e as reações de Mauro à essa experiência quase
telepática. Não vou adentrar mais para não tirar a graça e as surpresas dessa
história tão intricada, que, apesar de um pouco confusa, mantém a agilidade
costumeira das obras de Mutarelli. Só conto mais uma coisa: no meio do livro tem
uma história em quadrinhos escrita por um dos personagens, que enriquece ainda
mais essa experiência “mutarelliana”. Apesar de não ser meu livro preferido
desse autor, foi realmente uma grande viagem literária super recomendada, em
especial aos que conhecem as demais obras do autor.