sexta-feira, 22 de maio de 2015

Novos escritores


Por Júlia Martins
Há pouco tempo, li um livro um pouco diferente das minhas leituras habituais. Ganhei um exemplar de Cartas para Palavra, obra de um novo escritor mineiro chamado Adriano Gilberti. Na verdade, o livro é parte de um projeto maior transmidiático, o qual envolve também as plataformas de websérie e site. Assumo aqui que dei uma olhada no site, mas não me chamou muito a atenção, portanto vou falar exclusivamente do livro.

Apesar de algumas falhas de edição, o livro me surpreendeu positivamente. A história, muito diferente de tudo que já li, é sobre a divulgação de um conjunto de cartas de um escritor de nossa época que pouco conhecido e visto no futuro como importante, foi enviado por pesquisadores daquela época para que tivéssemos a oportunidade de lê-lo agora. As cartas são mescladas com informações coletadas sobre a vida desse escritor e também sobre outras pessoas importantes para ele.

Achei a proposta bem inovadora, pois ficção científica não é uma área da literatura muito frequentada por escritores brasileiros, e também por misturar os gêneros carta, poesia, romance, ficção científica e um toque de mistério. 

Um aspecto muito bacana na leitura é a forma como os coordenadores desse projeto do futuro fazem parte da história. Esses personagens têm voz por meio das notas de rodapé, trazendo um pouco de como esse futuro é vislumbrado pelo autor e das opiniões sobre a nossa forma de vida atual, muitas vezes fazem crítica ou demonstram nem entender as posturas dos personagens do início do século XXI.

Em minha opinião, Adriano Gilberti está no caminho certo, seu livro é bem escrito, tem força narrativa e apresenta uma história complexa para um escritor iniciante. Apenas achei desnecessário, até pela qualidade da obra, a carta que ele deixa no final, um artifício que não me atrai como leitora e decepcionou pelo conteúdo.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O desejo destruidor



 
O romance juvenil Lenora, da brasileira Heloísa Prieto, tem a música como pano de fundo. A criação de uma banda de rock, Triaprima, formada por três amigos, é responsável por mudar completamente a vida dos jovens com o sucesso repentino. Duda e Ian conheceram Lenora em Rio Vermelho (SC), no reveillon de 1970, onde a sintonia musical os uniu. A banda segue por dois anos, interrompida por uma fatalidade.

Ian, neto de irlandeses, acreditava no poder místico e sobrenatural da música, por isso desejou, enquanto tocava uma canção celta, um amor louco e forte que o fizesse morrer, enquanto seu amigo desejou sucesso, dinheiro e mulheres. Os desejos se realizam e o grupo fica devastado.

Paralela a esta história, no ano de 2006, em São Paulo (SP), outra Lenora, cujo nome foi inspirado na vocalista da Triaprima, ganha lugar na trama. Ela possui elementos que ligam sua história a dos integrantes. A jovem paulista somente encontrará resposta para seus questionamentos sobre a vida após um encontro com Duda, o único sobrevivente do grupo.

O principal ponto positivo da história é a crítica sobre os efeitos negativos da fama, da exposição, do assédio e do poder do dinheiro. O choque entre gerações também é notável. Não gostei dos efeitos sobrenaturais que foram fracos e mal construídos, além de muitos erros passados sem uma preciosa revisão. Nota 7.

Triaprima
É a junção dos elementos mágicos na alquimia: a arte, o amor e a palavra. Significa o momento em que as forças espirituais criam um estado de intensa criatividade.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O rei dos detetives e o vale do terror



O vale do terror, de Sir Arthur Conan Doyle, é uma aventura protagonizada pelo detetive mais famoso do mundo, Sherlock Holmes. A história foi publicada pela primeira vez na Strand Magazine, entre setembro de 1914 e maio de 1915, na forma de folhetim e perpetuou nos séculos seguintes. 

Após uma mensagem enigmática sobre um possível assassinato, nosso investigador recebe a confirmação de que ele foi consumado. Muitas pistas e suspeitos, com desfecho surpreendente, embora essa seja só a primeira parte do mistério.

O primeiro crime, ao ser analisado, nos leva direto ao Vale Vermissa, nos EUA, onde uma sociedade secreta, os maçons da Ordem dos Homens Livres, tinha controle absoluto da mineração local, cobrando altos impostos das indústrias exploradoras. Eles não mediam esforços para eliminar qualquer um que se pusesse em seu caminho. Até a polícia temia o grupo. A situação só muda com um visitante inesperado no vale e seu plano de reverter o quadro local.

Um crime está intrinsecamente ligado ao outro. A solução de um tem base histórica no outro. Um romance que encaixa perfeitamente os elementos de suspense, mistério e ação, à altura da inteligência de Holmes. O professor Moriarty, grande rival do detetive, tem espaço na trama, citado por seu vasto poder. Nota 9.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A Paixão de A. ou o confronto entre a pureza e o pecado

Por Júlia Martins


Conheci Alessandro Baricco por meio de um livreiro que me recomendou muito a leitura de Seda, o livro mais conhecido do autor. Depois de lê-lo, fiquei com vontade de conhecer mais obras do autor, fato concretizado recentemente com a leitura de A Paixão de A, e não me decepcionei.

O livro conta a história de quatro amigos católicos em uma cidade do interior da Itália, que segundo o próprio narrador, levam vidas medíocres, comedidas, sem grandes expectativas. Ao contrário da moça que chega à cidade para mudar a vida desses rapazes: Andre, uma jovem de família rica, desregrada, vive de excessos, com histórias conturbadas envolvendo drogas e sexo.

Além de destrinchar as relações dentro das famílias católicas italianas, onde a imagem que os filhos criam de suas famílias beira a perfeição, tendo os pais como exemplos máximos, é abordado o fato de como é difícil, dentro desse núcleo, perceber que algumas coisas fogem da normalidade, tais como doenças e abusos.

O escritor italiano Alessandro Baricco (Foto: articulosiete.com)
O envolvimento dos quatro rapazes com essa moça afeta profundamente a idealização que eles têm da vida, e passam a conviver com o drama de escolher entre a fé e o pecado, a moral e a beleza, o certo e o errado segundo a visão da igreja. Isso afeta cada um deles de uma forma muito particular e, além de separar seus caminhos, causa dor e sofrimento até culminar em tragédia.

A Paixão de A. é um livro curto, mas que tem muito a dizer, é denso, pesado e que me tocou muito, mesmo não sendo religiosa. Acho que dá para imaginar muitas das angústias que os jovens da atualidade passam e como as dificuldades que passamos na vida nos aproximam ou nos afastam de algum tipo de fé.

sábado, 9 de maio de 2015

Meu tipo de garota

Não sou muito fã de livros de contos, pois sempre tenho a sensação de ficar muito pouco tempo dentro de cada história. Além disso, quando o livro termina não lembro de metade deles. Indo contra essa ideia, o livro de Buddhadeva Bose, escritor da região de Bengala, na Índia, me cativou bastante.

Primeiro porque são apenas quatro narrativas distribuídas em cerca de cento e cinquenta páginas. Também porque ele entrelaça as histórias pelo encontro de quatro narradores (um escritor, um empresário, um médico e um servidor do exército) numa estação de trem, onde eles ficam presos por causa do atraso do serviço férreo.

As quatro narrativas, propostas por um dos personagens, deveriam ser sobre o amor, e, na minha opinião, são todas tristes: amor não correspondido ou não concretizado, morte e rejeição são os principais fatores que marcam as narrativas e impedem o final feliz. Os costumes locais, o ambiente indiano e a forma de tratamento entre homens e mulheres, influenciado pela cultura, enriquecem a leitura que é prazerosa e rápida.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Servir para liderar




O monge e o executivo - uma história sobre a essência da liderança, de James C. Hunter, é um dos livros que ficou mais tempo na minha estante aguardando para ser lido, cerca de seis anos. O fato de ser um bestseller de auto ajuda, gênero que evito, é o principal motivo. A minha crença é que todo livro tem uma lição a ser oferecida, e nesse caso não foi diferente.

Seis líderes de segmentos diversos - uma diretora de escola; uma enfermeira; uma treinadora de basquete; um sargento; um pregador; e um gerente-geral de uma indústria de vidro plano - passam uma semana em um mosteiro, num retiro espiritual voltado para o aprimoramento profissional. Valiosas lições são transmitidas por Leonard Hoffman, um famoso empresário que abandonou sua carreira para se tornar monge no local.

A história é narrada pelo gerente-geral, John Daily, o qual, após uma série de problemas e fracassos no campo pessoal e profissional, decide viver uma experiência diferente. Além das aulas com Simeão (nome adotado por Hoffman, já que no local os monges recebem uma nova identidade), todos devem assistir a cinco cerimônias religiosas diárias.

Além de alguns problemas de revisão, o fato de durante as aulas todos os participantes terem muito conhecimento sobre o assunto e contribuírem de forma igual ou superior ao mentor, torna a história não natural. A todo momento tem alguém com uma citação ou frase de efeito e até mesmo o tratamento entre eles não soa natural. Parece uma palestra diluída em diálogos.

Apesar dos pontos negativos, a leitura proporcionou reflexões interessantes e forneceu elementos para o crescimento individual, não só para líderes. Há lições para todos, exemplos de conduta dentro e fora das organizações para quebrarmos paradigmas e influenciarmos pessoas, indo além de simplesmente delegarmos funções, mas o fazermos com envolvimento e diálogo. Nota 7.

Algumas lições importantes
Gerir é para com as coisas, liderar é para com as pessoas.

Poder é impor e coagir, autoridade é influenciar, fazer com que a atividade seja feita de bom grado.
Modelo de liderança de Jesus (Ilustração: oblog.fariamiguel.com)

Todos podem ser líderes, já que as características são adquiridas com esforço e disciplina, sendo servir e amar ao próximo as principais delas.

Amar a todos não, necessariamente, com sentimento, mas com comportamento, com respeito e humildade.

Liderança não é estilo nem personalidade, e sim caráter e habilidade.

Modelo de liderança de Jesus, exemplo a ser seguido: Liderança > Autoridade > Serviço e Sacrifício > Amor > Vontade. Tudo começa com a vontade, escolha.

É preciso servir, atender às reais necessidades das pessoas para exercer autoridade. Devemos ser sempre honestos sobre as expectativas com o que esperamos dos liderados e nunca chamar atenção na frente dos outros.