quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O livro mais polêmico do ano não é assim tão polêmico



Por Júlia Martins


Fiquei um semestre sem adquirir livros, devido à altura da pilha de livros não lidos em minha casa. A meta era até o Dia dos Namorados, mas só voltei a comprar livros em julho, o que exigiu um grande esforço. E o primeiro livro que adquiri e li depois desse jejum foi Submissão, de Michel Houellebecq. Por quê? O tema de um país como a França, tendo um presidente mulçumano me pareceu um mote perfeito para um grande livro, bem ao estilo que me cativou para as leituras: as distopias.

Entretanto, me decepcionei um pouco. A narrativa se passa em 2022, portanto, não é um futuro tão distante e me pareceu que muitos dos argumentos utilizados para desenvolver a trama que culmina na eleição democrática de um líder que segue o Islã por um país cada vez mais laico precisariam de mais tempo para maturar na história. O tempo para que os grupos influentes e as mentalidades mudassem me pareceu pouco, mas afinal quem sou eu para dizer o que vai acontecer neste mundo cada vez mais veloz, não é?

Vamos a alguns pontos que achei duvidosos. Primeiro, existe um enfraquecimento dos dois maiores partidos do país, a esquerda e a direita moderadas. Isso facilmente se explica pelo desgaste dos atuais modelos de gestão, mas daí para de repente esses dois partidos serem batidos por um partido de extrema direita (à la Hitler) e outro muçulmano, já achei demais. Deveria ter um esforço de articulação política entre esses dois partidos tradicionais para que, ao menos, um chegasse ao segundo turno das eleições. Ou os próprios eleitores ou a imprensa deveriam alertar para esse fato e comprar essa batalha.

Segundo, onde estavam os grupos que seriam potencialmente prejudicados depois que o partido muçulmano ganhou as eleições? As mulheres, os judeus, os homossexuais? Como um país que leva milhões às ruas para protestar e que simplesmente inventou as greves pode não fazer nenhuma manifestação após as mudanças substanciais nos direitos das mulheres?

Por fim, como um livro que é vendido como o mais polêmico dos últimos tempos pode colocar um protagonista tão fácil quanto um homem branco, solitário, professor universitário e vulnerável no papel principal? OK, o rapaz é simpático e sua história se desenvolve bem, mas fiquei com a impressão de que tinha alguma coisa faltando. O livro é fácil de ler, bem escrito, mas não me convenceu.

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