Por Júlia Martins
Sangue no Olho foi
uma de minhas leituras mais recentes e compartilho, nessa postagem, um pouco das
percepções dessa experiência literária. O início do livro de Lina Meruane é
genial. Com uma visão fria e calculista de sua condição,
a personagem principal homônima à autora (Lina) narra o princípio do fim de sua
visão, um derramamento de sangue que vai aos poucos ocupando toda sua córnea, a
impedindo de enxergar o mundo. Na verdade não é apenas o nome que a personagem
tem em comum com a autora, elas partilham também a nacionalidade, área de
trabalho e local de moradia, confundindo um pouco essa ficção com autoficção.
Aos
poucos a narrativa do romance acaba esfriando, mas achei muito interessante a
transformação de Lina, que como personagem central dessa trama, acaba
modificando vagarosamente seu comportamento e temperamento à medida que a
doença evolui. Parece que a cada instante, ela se vê mais próxima da cegueira
total, perdendo um pouco da frieza e passando por situações de desequilíbrio e
tormenta.
O
relacionamento estabelecido por ela com seu companheiro e seus pais também é
muito interessante. Sem abordar nada diretamente, mostra certa submissão de seu
namorado Ignácio e o distanciamento que ela construiu com a família. Portanto,
não é um romance que fala apenas de uma doença, mas dos relacionamentos e como
a doença os influencia.
Sem
querer desmerecer o romance dessa super escritora, o que achei o grande charme
desse livro foi a edição da Cosac,
mais uma vez! O livro, ao decorrer das páginas, vai se tornando mais escuro, diminuindo
o contraste entre letra e fundo, o que dificulta a leitura. Isso nos aproxima
um pouco da condição da personagem da própria história, como se estivéssemos
também experimentando uma diminuição da capacidade de visão. Toque de mestre.
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