Vermelho amargo, de Bartolomeu Campos de
Queirós, é uma prosa poética de cunho autobiográfico. A narração é feita por um
menino que mostra como ele e os irmãos encaram a morte da mãe. Eram seis
irmãos, dois já morreram no momento em que o romance é relatado. Cada um dos
sobreviventes encontrou uma maneira de encarar a vida sem a mãe: o narrador
sobrevive os dias com seu silêncio e seu amor interno, vivido sem transparecer. Enquanto a irmã mais velha se dedica à costura em ponto-cruz; um irmão come vidro, isso o
alivia. Outro não fala, mia, e é inseparável de gato, mudo. A irmã mais
nova, que veio ao mundo enquanto a mãe partia, encontrava paz no
globo, objeto no qual a cada dia ela escolhia um lugar diferente para acordar,
em sua imaginação.
O
pai se entregou ao álcool e recomeçou a vida ao lado da madrasta. Enquanto a
mãe era doce, a madrasta era amarga. Sua fúria era descontada no tomate,
servido em cada refeição diária, carregado de amargor. O legume sempre foi a estrela
do prato. Como uma metáfora, todos comiam o tomate indigesto, como maneira de
aceitar a vida imposta pelo destino.
Pouco
a pouco, cada um dos irmãos deixa a casa, a seu tempo. Esse fato é apresentado
ao longo do romance como contagem regressiva, enfatizando cada despedida. É com
pesar que o narrador vê a casa ficar cada vez mais vazia, enquanto as fatias do
tomate ficam mais grossas. Isso perpetua até o momento de sua própria partida.
O menino passa a não acreditar em Deus. Somente os livros e sua fantasia o
mantém fora da realidade amarga.
Um
livro curto (72 páginas), mas grande em aspectos literários e sentimentos. Nos vemos imersos na vida do menino e padecendo de suas angústias. No final, não queremos,
nem estamos preparados para que o livro acabe. Ficamos com o gosto amargo do
tomate na boca e o mal-estar indigesto provocado por ele. Nota 9. A edição da Cosac tem letras vermelhas enfatizando
essa presença, amarga, do tomate.