terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Conhecendo Jorge de Lima



Por Júlia Martins
Calunga, de Jorge de Lima, é considerado um dos pilares da literatura nordestina, juntamente com O Quinze, de Rachel de Queiroz, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Como já havia me aventurado nesses outros dois romances e são alguns dos meus livros preferidos, fiquei muito interessada na obra prima desse escritor alagoano menos conhecido, recentemente editado pela Cosac Naify.

A obra conta a história de um rapaz, Lula Bernardo, que abandona sua cidade natal no interior nordestino para buscar uma vida melhor e estudar na capital. O romance começa com o retorno do personagem à sua terra em busca de sua família, além do objetivo de trazer ao seu povo um pouco do aprendizado adquirido, de forma a melhorar a vida de todos.
De início, para mostrar que o aspecto árido e cruel não está presente apenas na paisagem local, ele não consegue mais localizar sua família que provavelmente foi se acabando à medida que a pobreza invadiu e se apossou de tudo, nesse lugar onde até a esperança não tem espaço.

Ainda com a força de vontade embalada pelos aprendizados e oportunidades que teve na capital, Lula Bernardo decide se estabelecer nas terras onde uma vez morou. Ele passa então a criar cabras, coisa que não se via na região, dominada pela criação de porcos e por um senhor de terras paralítico chamado Totô de Canindé, um verdadeiro coronel na região. Além das dificuldades naturais, ele começa a perceber que seu vizinho de terras não tem as melhores intenções, apesar de parecer um senhor inofensivo e prestativo.

Seca e fome presentes no livro.  (Foto: diário do nordeste.verdesmares)
À medida que Lula começa a se envolver com os locais e buscar soluções aos seus problemas, ele vai se tornando novamente uma pessoa da terra, atingido pela maleita (malária) e se vendo na necessidade de comer terra para aliviar os sintomas. Ele também percebe que não há escapatória, não há como mudar aquele povo, apenas se tornar mais um.

Com inimigos sociais, ambientais e a saúde fragilizada, o fim derradeiro de Lula parece se aproximar. Jorge de Lima sabe ambientar muito bem esse clima confuso e onírico. Nesse espiral de acontecimentos, que o nome do livro mesmo representa (dentre os significados de Calunga, um é redemoinho de água), o escritor não apenas apresenta o destino inevitável de seu personagem, como o de todo o povo nordestino.

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