Por Júlia Martins
Calunga, de
Jorge de Lima, é considerado um dos pilares da literatura nordestina,
juntamente com O Quinze, de Rachel de
Queiroz, e Vidas Secas, de Graciliano
Ramos. Como já havia me aventurado nesses outros dois romances e são alguns dos
meus livros preferidos, fiquei muito interessada na obra prima desse escritor
alagoano menos conhecido, recentemente editado pela Cosac Naify.
A obra conta a história de
um rapaz, Lula Bernardo, que abandona sua cidade natal no interior nordestino
para buscar uma vida melhor e estudar na capital. O romance começa com o
retorno do personagem à sua terra em busca de sua família, além do objetivo de
trazer ao seu povo um pouco do aprendizado adquirido, de forma a melhorar a
vida de todos.
De início, para mostrar que
o aspecto árido e cruel não está presente apenas na paisagem local, ele não
consegue mais localizar sua família que provavelmente foi se acabando à medida
que a pobreza invadiu e se apossou de tudo, nesse lugar onde até a esperança
não tem espaço.
Ainda com a força de vontade
embalada pelos aprendizados e oportunidades que teve na capital, Lula Bernardo
decide se estabelecer nas terras onde uma vez morou. Ele passa então a criar
cabras, coisa que não se via na região, dominada pela criação de porcos e por
um senhor de terras paralítico chamado Totô de Canindé, um verdadeiro
coronel na região. Além das dificuldades naturais, ele começa a perceber que
seu vizinho de terras não tem as melhores intenções, apesar de parecer um
senhor inofensivo e prestativo.
Seca e fome presentes no livro. (Foto: diário do nordeste.verdesmares) |
À medida que Lula começa a
se envolver com os locais e buscar soluções aos seus problemas, ele vai se
tornando novamente uma pessoa da terra, atingido pela maleita (malária)
e se vendo na necessidade de comer terra para aliviar os sintomas. Ele também percebe
que não há escapatória, não há como mudar aquele povo, apenas se tornar mais
um.
Com inimigos sociais, ambientais e a saúde fragilizada, o fim derradeiro de Lula parece se aproximar. Jorge de Lima sabe ambientar muito bem esse clima confuso e onírico. Nesse espiral de acontecimentos, que o nome do livro mesmo representa (dentre os significados de Calunga, um é redemoinho de água), o escritor não apenas apresenta o destino inevitável de seu personagem, como o de todo o povo nordestino.
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