quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Peregrinos ou relatos sem fim #Um conto por dia



Resolvi começar o ano com a meta de ler mais contos. Um por dia, para pensá-lo durante 24h. Uma forma eficaz de movimentar os livros da estante e ler mais, já que as leituras de romances e novelas continuam normalmente. Para iniciar o projeto, escolhi Peregrinos, de Elisabeth Gilbert, conhecida pelo livro Comer, rezar e amar.

Editado pela Objetiva – Alfaguara, a antologia de 12 contos está disposta de modo a oferecer confortável leitura, com folhas amarelas e espaçamento ideal entre linhas e páginas. Os contos são diversos entre si. Cada um tem seus personagens com dramas próprios. Minha experiência de leitura foi parecida como a de ouvir casos, conversas informais, de 12 pessoas diferentes.

A particularidade que une as histórias é que não há desfecho marcado nos contos, mas sim a possibilidade de interpretarmos que a vida de cada personagem continua, como a nossa, superando o drama apresentado, se abrindo para outros fatos. A vida comum. 

Não são histórias de começo, meio e fim, mas relatos não terminados. O ponto onde se encerra o conto pode ser no meio de uma ação, tomada de decisão ou situação de risco. O leitor não é subestimado, mas pode imaginar cada final. Foi boa a escolha logo no começo do ano. Nota 8.

Conheça mais sobre o projeto aqui.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O primeiro balão que cruzou a África



Cinco semanas em balão é a primeira obra do grande escritor francês Julio Verne, publicada em 1863. Em época de grandes descobertas, o inglês Dr. Samuel Fergusson decide projetar um balão para atravessar a África de leste a oeste (Zanzibar a Senegal). Ele é aclamado pela Sociedade Geográfica de Londres, decidindo partir com seu criado Joe Wilson e seu grande amigo, o caçador Dick Kennedy.

O caminho dos primeiros exploradores baseia o roteiro da viagem, porém nenhum deles conseguiu ir muito longe por via terrestre. Por sua vez, a genialidade do balão é notável, já que o sistema de aquecimento com maçarico e dilatação do combustível permite subir e descer, ultrapassando obstáculos e ancorar em lugares convenientes.

Durante a jornada, muitos perigos se apresentam para os aventureiros, como animais selvagens diversos, tribos canibais e a longa jornada sem água no deserto. Com criatividade e sorte, todas as adversidades vão ficando para trás, deixando transparecer as paisagens incríveis do continente. Devido aos parcos recursos da época, um diário de bordo e desenhos do local eram utilizados pelo Dr. Fergunsson para registro.

Vale ressaltar que Júlio Verne não conheceu a África antes de escrever o livro, de modo que tudo partiu de seu imaginário. Um grande livro clássico, muito divertido e rico. Uma aventura repleta de curiosidades geográficas, físicas e químicas (às vezes as descrições dos componentes do balão chegaram a ser até exaustivas), mas é muito legal se transportar para um lugar fantástico dentro de um balão. Recomendo muito. Além deste, já li A volta ao mundo em 80 dias e também gostei, por isso tenho vontade de ler mais obras do autor. Nota 8.

*Minha edição é portuguesa, impressa na Espanha, de capa dura. Peguei uma baita promoção.

Um livro genial



Por Júlia Martins

Acabei recentemente a leitura do livro A Amiga Genial, de Elena Ferrante. Que livro maravilhoso! Foi um dos primeiros lidos em 2016, e já tenho certeza que estará na lista de melhores leituras do ano. Percebi o impacto que o livro teve em mim quando, ao finalizar a leitura, corri para a internet para saber quando seria o lançamento do segundo volume, pois esse é o primeiro de uma série denominada Napolitana.

A história se passa em Nápoles no pós-guerra e conta a história da amizade entre duas meninas, Elena (a narradora) e Lila (Rafaella), desde a infância até os seus 16 anos. Elena narra suas incertezas e experiências em um bairro marcado pela violência e pobreza, no subúrbio da cidade. Ao longo da narrativa, vamos conhecendo um pouco das duas meninas, Lila que é mais livre, selvagem e extremamente cativante e encantadora; e Elena que se vê às margens de sua amiga e é uma menina mais centrada, estudiosa e contida.

A maestria da obra está no modo como a autora a narra. Deixo um trecho do próprio livro que para mim descreve isso muito bem: “... ela se expressava com frases de extremo apuro, sem nenhum erro, mesmo sem ter continuado os estudos, mas – além disso – não deixava nenhum vestígio de inaturalidade, não se sentia o artifício da palavra escrita. Eu lia e ao mesmo tempo, podia vê-la, escutá-la. Sua voz era um fluxo que me arrebatava e me transportava como quando discutíamos entre nós, e no entanto era inteiramente depurada das escórias de quando se fala, da confusão oral...”.

A boa notícia é que teremos mais três volumes para apreciar essa escrita tão natural, as histórias dessas amigas tão comuns, tão próximas de nós e tudo com esse toque de genialidade.

Contos da Mamãe Gansa #Um conto por dia



Por Júlia Martins



Mais um para o desafio de um conto por dia que está saindo melhor que a encomenda. Achei que ler um conto por dia ia ser pesado, mas além de até agora estar muito tranquilo, é uma ótima forma de colocar em dia a leitura dos livros de contos e, ao mesmo tempo, poder curtir cada história. Antes eu começava a ler um livro de contos e muitas vezes lia dois, três ou quatro contos em um dia só. Como são histórias independentes, acho difícil absorver as peculiaridades, as sutilezas, o clima de cada um.

Enfim, acabei de ler Contos de Mamãe Gansa, de Charles Perrault, que ao contrário do que muita gente acredita, é o verdadeiro autor dos contos de fadas mais famosos do mundo. Muitos acham que são dos Irmãos Grimm, mas uma pesquisa na internet me revelou que Charles Perrault viveu antes dos irmãos e alguns contos dessa coletânea foram posteriormente reescritos pela dupla.

As histórias são as que todos já conhecemos desde a infância: Bela Adormecida, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Pequeno Polegar, mas existem algumas outras menos conhecidas, embora não menos interessantes como As fadas, Pele de Asno e Riquet, o Topetudo. Vale a pena revisitar essas histórias que fazem parte da construção moral do mundo ocidental e ver o que realmente foi escrito no original (sim, a Disney inventou um bocado de coisas para tornar as histórias maiores e mais adequadas ao público infantil).

Entretanto, o mais especial dessa leitura foi a edição primorosíssima da Cosac Naify (continuo de luto com seu fim. Acho que perdemos uma das melhores editoras do mundo). Sei que já falei de outras edições da Cosac por aqui, mas essa é realmente especial e, em minha opinião, o livro mais bonito que tenho. Cada um dos contos tem um projeto gráfico, ilustrações e até o papel diferente. A equipe responsável pelo trabalho se chama Milimbo, são espanhóis especializados em ilustração de contos de fadas. Sinto-me privilegiada de poder ter acesso a esse trabalho que considero uma verdadeira arte, e recomendo a todos que comprem seus exemplares antes que se esgotem.