terça-feira, 8 de março de 2016

Reencontro com Mutarelli



Por Júlia Martins
Lourenço Mutarelli é meu escritor brasileiro contemporâneo favorito. Já havia lido todos os seus livros já publicados, com exceção de Jesus Kid. Então ele lançou O Grifo de Abdera, no ano passado, e eu fiquei doida para ler, afinal foi um hiato proposital de quase cinco anos, desde a publicação de Nada me faltará. Acabei de concretizar essa vontade e vou compartilhar minha experiência aqui com vocês.

Esse romance é, na minha opinião, a obra mais elaborada dele e vou explicar porquê. O autor, definitivamente, não teve medo de brincar com sua própria história artística ao elaborar essa trama. Ele conta a história dos autores que estão por trás da alcunha Lourenço Mutarelli, que são, na verdade, o escritor Mauro e o ilustrador Paulo, responsáveis por quadrinhos como Diomedes e Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente. Além deles, o rostinho bonito que ilustra as orelhas dos livros de Mutarelli é ainda um terceiro personagem, Raimundo ou Mundinho, que leva os louros da obra. Após a morte de Paulo, Mauro começa a escrever romances, o que condiz com publicação do escritor na vida real. Citações da obra de Mutarelli estão por todo o livro e, por isso, algumas brincadeiras propositais dentro de sua obra (como o que existe realmente e o que é invenção) só serão percebidas por fãs do autor, ou alguém disposto a pesquisar todas as referências. 

A história tem início quando Mauro recebe uma moeda de um estranho, o grifo de Abdera, e a partir desse momento começa a se conectar com um sujeito desconhecido, Oliver Mulato, para complicar ainda mais a trama. Mauro passa a conhecer tudo da vida de Oliver, saber o que se passa em seu dia a dia, seus sentimentos e percepções do que ocorre a sua volta. O mesmo não acontece com Oliver, já que ele passa a sofrer de uma doença que se manifesta na forma de frases aleatórias em espanhol, pronunciadas contra a sua vontade. O curioso é que essas frases são escritas por Mauro no Google Tradutor para ver como soam em espanhol. Portanto, de uma forma ou de outra, esses personagens estão intimamente ligados.

A partir disso, passamos a conhecer a vida de Oliver, e as reações de Mauro à essa experiência quase telepática. Não vou adentrar mais para não tirar a graça e as surpresas dessa história tão intricada, que, apesar de um pouco confusa, mantém a agilidade costumeira das obras de Mutarelli. Só conto mais uma coisa: no meio do livro tem uma história em quadrinhos escrita por um dos personagens, que enriquece ainda mais essa experiência “mutarelliana”. Apesar de não ser meu livro preferido desse autor, foi realmente uma grande viagem literária super recomendada, em especial aos que conhecem as demais obras do autor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário